Anomalia do Desenvolvimento Venoso

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Vemos na nossa prática muitos pacientes com a descoberta incidental de Anomalia do Desenvolvimento Venoso (ADV) no cérebro. A história típica é a de quem realizou exame de Ressonância Magnética (RM) ou Tomografia Computadorizada (TC) por alguma razão (investigação de dor de cabeça, tontura, ect.) e foi encontrada a ADV.

Nesse momento, naturalmente, surgem algumas perguntas: O que é uma ADV e quais perigos ela pode trazer? A ADV tem alguma relação com meus sintomas?

As respostas, com raras excessões, são que as ADVs não são perigosas e nem têm relação com os sintomas que levaram à realização dos exames de RM ou TC.

O que são as Anomalias do Desenvolvimento Venoso?

As Anomalias do Desenvolvimento Venoso são semelhantes ao que o próprio nome descreve: tratam-se de veias que mantém algumas características da fase antiga de sua formação - ou fase de desenvolvimento. Podem ocorrer em qualquer parte do cérebro.

Dentre as várias mudanças que ocorrem no corpo humano entre a fase intra-útero e o nascimento, os vasos sanguíneos do cérebro crescemse interligam e se redistribuem. Durante esse processo, algumas veias podem não se evoluir corretamente, mantendo as características da fase mais jovem mesmo na pessoa adulta. À essa alteração, damos o nome de “Anomalia” do desenvolvimento venoso.

Anomalia do desenvolvimento venoso no lobo frontal direito. Imagem de Ressonância Magnética mostrando o aspecto clássico, lembrando o de uma “palmeira”. Imagem retirada da internet (fonte: The Neurosurgical Atlas).

Anomalia do desenvolvimento venoso no lobo frontal direito. Imagem de Ressonância Magnética mostrando o aspecto clássico, lembrando o de uma “palmeira”. Imagem retirada da internet (fonte: The Neurosurgical Atlas).

Quão comuns são as Anomalias do Desenvolvimento Venoso?

Quanto melhores os métodos diagnósticos, mais comumente elas são detectadas. É mais comum encontrar uma AVD em 2021 que em 1990, quando os exames de imagem eram menos avançados. De maneira geral, o consenso é que aproximadamente 5% dos adultos possuam ADVs.

Qual a função delas?

As veias que pertencem às Anomalias do Desenvolvimento Venoso funcionam normalmente e exercem o mesmo papel das veias ditas "normais", ou seja: drenam o sangue dos tecidos cerebrais para a circulação sistêmica.

No processo natural de desenvolvimento e crescimento das veias normais, elas interligam às veias vizinhas, criando uma rede que se comunica. Diferentemente, a anomalia do desenvolvimento costuma ser a única responsável pela drenagem do tecido do território cerebral em que está localizada. Isso pode ser considerado uma desvantagem, já que não há rota alternativa para drenagem caso ocorra trombose dessa veia - algo extremamente raro.

O que elas podem causar?

É muito raro que as ADVs por si sós causem sintomas, mas existem raros relatos associando as ADVs isoladas à condições como o AVC do tipo hemorrágico ou isquêmico. Entretanto, alguns pacientes podem ter a associação simultânea da ADV com outras malformações, elevando o risco à saúde. A mais comum delas é a associação com a Malformação Cavernosa ou simplesmente "Cavernoma". Um Cavernoma é uma malformação venosa também comum, acometendo aproximadamente 1% dos adultos. Diferentemente da ADV, o Cavernoma não tem função e pode, em uma frequência maior, levar a sangramentos. Os Cavernomas estão presentes em aproximadamente 10% dos pacientes com ADV.

Em outros casos, também extremamente raros, a anomalia do desenvolvimento venoso pode não exercer corretamente sua função natural de drenagem do sangue, o que pode resultar em quadros neurológicos como a epilepsia.

É necessário tratamento?

Lembramos que para recomendações de saúde, o correto é sempre procurar atendimento médico especializado, pois cada paciente tem suas particularidades que devem ser avaliadas em detalhes. Todavia, no caso das ADVs, de maneira geral - como explicamos acima -tratam-se de achados considerados "benignos" ou incidentais e não é necessário tratamento.

Em algumas situações, o diagnóstico fornecido pelo exame de Ressonância Magnética ou Tomografia Computadorizada pode não ser totalmente preciso seu médico vir a solicitar uma Angiografia Cerebral por Cateter. Esse exame, realizado pelo médico neurointervencionista, pode ajudar a diferenciar entre a ADV e as Malformações Arteriovenosas Cerebrais (MAVs), que são condições distintas e com condução do tratamento também diferente. Temos vários textos dedicados às MAVs aqui no site da Neocure.

Escrito por:

Dr. Daniel Giansante Abud
CRM/SP 94.196 - RQE 41.802/41.802-1/75.310
Neurorradiologista intervencionista, livre-docente da FMRP-USP e ex-presidente da SOBRICE.

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