Ataque Isquêmico transitório – AIT: busca rápida por atendimento médico pode evitar quadros mais graves
O que é um Ataque Isquêmico Transitório?
Como o próprio nome sugere, é uma condição temporária e que costuma durar poucos minutos ou algumas horas. Funciona assim: na maioria das vezes o paciente está vivenciando a sua rotina quando, de repente, começa a sentir alguns sintomas, como alteração da sensibilidade de um lado do corpo, alteração da visão, tontura ou dificuldade para falar – os mesmos sintomas de quem tem um AVC.
Isso acontece porque existe um bloqueio ou entupimento temporário de um vaso sanguíneo no cérebro, fazendo com que uma parte do órgão fique sem o oxigênio necessário. O bloqueio pode ser causado por uma placa de gordura ou coágulo que se solta do revestimento e fica preso no vaso sanguíneo, impedindo a circulação normal.
É justamente quando a irrigação do vaso se interrompe que o paciente começa a sentir os sintomas. No entanto, por ser transitório, há o desaparecimento total dos sintomas assim que a circulação sanguínea se regulariza, como se nada tivesse ocorrido.
O que o AIT tem a ver com o AVC?
Pode-se dizer que o Ataque Isquêmico Transitório e o Acidente Vascular Cerebral isquêmico são causados pelo mesmo motivo, a diferença é que o primeiro se resolve “sozinho” em até algumas horas, diferente do segundo, que pode causar sequelas permanentes. O grande problema é que, após ser acometido pelo AIT, são grandes as chances de o paciente vir a sofrer um AVC.
Segundo um estudo publicado no Journal of the American Heart Association (“Jornal da Associação Americana do Coração”, em tradução livre), de 10% a 15% dos pacientes que tiveram AIT acabando sofrendo AVC em até três meses, com metade dos casos ocorrendo em 48 horas após o primeiro ataque isquêmico.
Por isso é importante reforçar que não se deve aguardar o sumiço dos sintomas e sim buscar por atendimento médico imediatamente.
Sintomas de Ataque Isquêmico Transitório
É fundamental lembrar que os sintomas aparecem de maneira súbita, sem qualquer aviso prévio. A seguir, alguns sinais que podem ser causados pelo Ataque Isquêmico Cerebral:
Falta de sensibilidade em um lado do corpo;
Fala “arrastada”.
Desvio da boca para um dos lados, como se estivesse “torta”;
Falta de equilíbrio;
Dificuldade de se movimentar;
Náuseas e vômitos;
Visão embaçada ou tremida em um dos olhos;
Sonolência;
Dores fortes na cabeça;
Convulsão;
Alteração na audição;
Como reduzir os riscos de ter AIT?
Não é nenhum segredo que o estilo de vida de cada um impacta diretamente nas condições da saúde do corpo ao longo da vida. O AIT pode ocorrer em pacientes jovens, mas há uma incidência maior em pessoas com mais de 55 anos de idade. A prática de atividade física e a alimentação equilibrada contribuem para a redução dos riscos. Confira algumas medidas que podem ser adotadas nesse sentido:
Pare de fumar – a cessação tabágica reduz os riscos de um AIT ou AVC;
Reduza alimentos gordurosos – o excesso de gordura saturada pode aumentar o acúmulo de placas nas artérias;
Equilibre a alimentação – frutas, legumes e verduras são alimentos ricos em nutrientes que podem ajudar na proteção contra o AIT;
Diminua o sódio – alimentos processados possuem excesso de sódio, que está ligado diretamente à hipertensão, importante fator de risco;
Pratique exercícios regularmente – a prática de exercícios físicos ajuda a controlar várias doenças, como a hipertensão;
Reduza o consumo de álcool e mantenha o diabetes controlado.
Diagnóstico
Ao chegar no hospital nas primeiras horas após o início dos sintomas, a equipe médica poderá optar por solicitar uma série de exames para identificar a causa, como tomografia e eletrocardiograma. Confira o exemplo de algumas análises comuns e entenda como funcionam:
Tomografia – A tomografia é um dos exames mais básicos a serem feitos. Esse procedimento permite identificar se os sintomas foram causados por isquemia ou por hemorragia (o que muda totalmente o protocolo de tratamento a ser adotado);
Ultrassonografia das carótidas – As carótidas são artérias que ficam nos dois lados do pescoço, responsáveis por levar oxigênio ao cérebro. Quando há um desequilíbrio no funcionamento desses vasos (que pode estar associado ao acúmulo de placas de gordura) o paciente pode sofrer AIT;
Ecocardiograma – Os ecocardiogramas oferecem imagens que possibilitam a visualização de detalhes do funcionamento do coração, bem como avaliam a presença de trombos e coágulos que podem vir a se soltar e chegar pela circulação sanguínea até o cérebro, levando ao AIT.
Ressonância magnética ou angiografia por ressonância – Esses exames utilizam o campo magnética para gerar uma visão detalhada do cérebro. Em alguns casos o médico pode injetar “contraste”, um líquido que ajuda a realçar as imagens de algumas estruturas e dos vasos, procedimento muito útil e frequentemente aplicado por médicos intervencionistas;
Doppler transcraniano – é um exame que avalia a velocidade dos fluxos de sangue, especialmente nas artérias cerebrais.
Angiografia por cateter - nos casos onde há grande suspeita de acometimento das artérias carótidas ou vertebrais, ou seja, quando há altas chances de ser indicado tratamento, a Angiografia é realizada para confirmar o diagnóstico e principalmente já como primeira etapa do tratamento. O primeiro passo em uma Angioplastia é a realização do exame de Angiografia por cateter.
Tratamentos para Ataque Isquêmico Transitório
Ao constatar a causa do AIT, o médico intervencionista iniciará um tratamento com objetivo de corrigir o problema e prevenir o derrame. O médico poderá prescrever medicamentos anticoagulantes para reduzir a tendência de coágulos no sangue, além de recomendar cirurgia ou angioplastia, procedimento muito realizado na prática dos neurointervencionistas.
Anticoagulantes – os anticoagulantes como heparina e varfarina afetam as proteínas do sistema de coagulação. Esses medicamentos requerem monitoramento cuidadoso e geralmente com seguimento conjunto dos médicos da Neurorradiologia, Cardiologia ou Neurologia clínica.
Antiagregantes plaquetários – essa classe de medicamentos atua em outra via da coagulação, as plaquetas. Nos pacientes que apresentam placas de gordura (chamadas pelos médicos de aterosclerose) e tiveram AIT, é muito comum o uso dessas medicações. A aterosclerose pode levar à formação de coágulos que podem desprender e levar à obstrução de artérias importantes do cérebro, causando AIT e AVC. Os antiagregantes plaquetários podem ajudar a reduzir esse risco.
Estatinas – essas medicações são classicamente prescritas para controle dos níveis de colesterol. Mas não somente os pacientes que têm colesterol elevado se beneficiam. Sabemos que as estatinas atuam em conjunto com os antiagregantes plaquetários para oferecer efeito protetor contra o AIT e o AVC.
Angioplastia carotídea – A angioplastia carotídea é um tratamento minimamente invasivo realizado pelo neurointervencionista. Consiste em desobstruir a artéria por meio de um cateterismo, que pode ser realizado por uma pequena punção em artéria da virilha ou braço. Pode ser realizada com ou sem o uso do stent.
Cirurgia – Em casos selecionados, o médico pode sugerir a endarterectomia carotídea, uma cirurgia que limpa os depósitos de gorduras (placas ateroscleróticas) para prevenir que outro AIT ou AVC ocorra.
Referência: https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/strokeaha.108.192218
Escrito por:
Dr. Rafael Kiyuze de Freitas
CRM/SP 156.335 - RQE 72.162/85.005
Especialista em Radiologia Intervencionista e Angiorradiologia - Sobrice/CBR/AMB, com Certificado de área de atuação em Neurorradiologia Terapêutica - SBNR/CBR/AMB