Como a pandemia afetou o tratamento de outras doenças graves como o aneurisma cerebral

Aneurisma e COVID HSA header.png

Um estudo publicado esta semana na revista Stroke Vascular Surgery do British Medical Journal, que contou com a participação do Dr. Daniel Abud da NeoCure, tem muita relação com o momento que passamos: ele mostra o efeito da pandemia de Covid-19 nas internações e tratamentos de hemorragias cerebrais causadas por aneurismas no mundo todo.

Por que foi realizado o estudo?

O estudo foi realizado porque no início da pandemia de Covid-19, ainda em fevereiro de 2020, médicos chineses observaram que em muitos hospitais estava havendo um menor número de internações por doenças graves, como como infarto do miocárdio e AVC.

Isso não significava que o número de casos reduziu, mas que as internações nos grandes hospitais por conta dessas doenças tinham reduzido. Por isso, os autores do estudo quiseram analisar se isso também acontecia nas hemorragias cerebrais por aneurisma. A idéia era saber se o grande número de pacientes com Covid-19 internados afetaria o fluxo de pacientes com outros problemas de saúde também graves. Nesse caso, o problema avaliado foi a hemorragia causada por aneurisma cerebral.

Quais os objetivos desse estudo?

O estudo comparou o período da pandemia com o anterior para responder a algumas perguntas/hipóteses que foram levantadas:

  • Houve menos internações e cirurgias de embolização em pacientes com hemorragias causadas por aneurismas cerebrais comparado com os meses logo antes da pandemia?

  • Houve menos internações e cirurgias de embolização em pacientes com hemorragias causadas por aneurismas cerebrais comparado com o mesmo período de 2019?

  • As internações iam reduzir em vários hospitais, mas seriam menores ainda nos hospitais que atendem muitos pacientes com Covid-19?

  • Os hospitais onde normalmente ocorrem muitos procedimentos de embolização para tratamento de aneurismas são menos afetados?

 

Como foi realizado o estudo?

Em uma cooperação internacional envolvendo mais de 140 hospitais em 37 países, foram analisados dados entre os meses março e maio de 2020. Foi feita a comparação com os 3 meses anteriores e também com o mesmo período no ano de 2019. Os participantes coletaram e enviaram os dados importantes relacionados à hemorragia por aneurisma se também os números relacionados ao Covid-19. Foram incluídos mais de 5000 pacientes no estudo.

 

O que o estudo mostrou? 

O estudo respondeu às perguntas e maioria das hipóteses se confirmou. Os pacientes realmente chegaram menos aos hospitais, como mostra o gráfico abaixo, extraído do estudo:

A linha azul mostra o número de pacientes internados por hemorragia cerebral do tipo HSA (hemorragia subaracnóidea – o tipo de sangramento que o aneurisma cerebral causa). Conseguimos ver que a linha começou a cair após o mês de fevereiro de 2020, quando houve aumento no número dos casos de Covid-19 (linha cinza).

 

O que isso significa?

A importância do estudo é mostrar que a pandemia de Covid-19 causou também impacto em outras doenças potencialmente graves. A principal hipótese é que os pacientes teriam medo se contaminar ao procurar os hospitais, levando a esses números mais baixos.


É importante lembrar, como explicamos semana passada em outro texto aqui do site: a dor associada ao sangramento do aneurisma é muito intensa e de início súbito. Os pacientes a definem como “a pior dor que já sentiram na vida”. Ela pode ou não vir associada aos seguintes sintomas:

  • Desmaios ou alteração do estado de consciência

  • Dificuldade em movimentar um lado do corpo ou músculos do rosto

  • Dificuldade na fala e em compreender frases

  • Dor na região da nuca, com dificuldade de movimentação do pescoço

  • Crises convulsivas

  • Perda ou alteração súbita da visão

  • Vômitos

O paciente com esses sintomas não pode demorar a procurar assistência hospitalar!

Fonte/link do estudo:

Decline in subarachnoid haemorrhage volumes associated with the first wave of the COVID-19 pandemic

Escrito por:

Dr. Daniel Giansante Abud
CRM/SP 94.196 - RQE 41.802/41.802-1/75.310
Neurorradiologista intervencionista, livre-docente da FMRP-USP e ex-presidente da SOBRICE.

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