Mioma uterino e gravidez
O mioma uterino está presente em 5 a 10% das pacientes com infertilidade, mas acredita-se que em apenas até 3% dos quadros de infertilidade, a causa seja exclusivamente por esta doença.
Deste modo, podemos concluir que apesar de relativamente frequente, o mioma não é causa primária da infertilidade da maioria dos casais.
A embolização para o tratamento dos sintomas secundários aos miomas é cada vez mais frequente, em virtude de apresentar altas taxas de resolução ou melhora dos sintomas, ser seguro na preservação do útero e apresentar recuperação extremamente rápida, de poucos dias.
Porém são frequentes as dúvidas sobre a gravidez após a embolização uterina. Ela é segura? Hoje, você poderá conhecer mais sobre a embolização e seus efeitos sobre eventuais gestações futuras. Continue com a gente e boa leitura!
O que é o mioma?
O mioma é um tumor benigno que atinge o útero e pode aparecer na idade fértil da mulher, causando alguns efeitos desagradáveis, como sangramento vaginal aumentado e sintomas de compressão das regiões próximas, como a bexiga, gerando dor, perda de urina ou necessidade de urinar várias vezes durante o dia ou mesmo acordar à noite para urinar.
Como é o tratamento através da embolização?
A embolização é tratamento pouco agressivo e de recuperação mais rápida que os procedimentos cirúrgicos, e apresenta coberta obrigatória pelos planos de saúde (está presente no rol da ANS), desde que adequadamente indicado.
O tratamento através da embolização é realizado pela interrupção da circulação dos miomas utilizando finos cateteres, por dentro das artérias, reduzindo o tamanho dos nódulos e o volume do útero, assim como resolvendo os sintomas das doenças. Este procedimento faz parte do rol da ANS, sendo autorizado por todos os planos, desde que prescrito por um especialista.
A paciente é submetida ao procedimento sob raquianestesia, sedação ou anestesia geral, através de uma picada em uma artéria do punho ou da virilha, por onde finos cateteres alcançam a circulação do útero, sendo guiadas por raios X. Após alcançar a circulação, micropartículas ou microesferas são utilizadas para parar a circulação dos miomas, fazendo com que eles “sequem” e diminuam de tamanho, com resolução dos sintomas na grande maioria das pacientes. A alta hospitalar geralmente acontece no dia seguinte ao procedimento, porém em algumas situações a alta pode ser no mesmo dia do procedimento ou postergada em alguns dias.
Quando a paciente pode engravidar após o tratamento?
Ao ser submetida a miomectomia (retirada cirúrgica do mioma), há um período de resguardo obrigatório, quando a paciente não pode engravidar pelo risco aumentado de complicações na gravidez, principalmente com a ruptura do útero, com risco à vida da mãe. O mesmo não acontece com a embolização.
Após a embolização, orientamos a paciente a evitar atividades físicas e esforço físico nos dias que seguem o tratamento, apenas por segurança da artéria puncionada, para evitar hematomas e sangramento. Não há contra-indicação à prática sexual após a embolização, estando liberada desde que a paciente se apresente confortável para estas atividades.
Caso ocorra uma gestação, se o endométrio (membrana interna do útero, onde ocorre a implantação do feto e cresce a placenta) estiver adequada para implantação, a mesma ocorrerá e haverá desenvolvimento da gestação. É infrequente acontecer a gravidez antes de três meses após a embolização.
Quais as chances de gravidez e a segurança durante a gestação?
Estudos em mulheres previamente inférteis, com causa atribuída ao mioma uterino, com média de idade de 35,9 anos e submetidas a embolização, aproximadamente 30% apresentaram gravidez espontânea no primeiro ano após o tratamento e aproximadamente 40% apresentaram gravidez espontânea até o final do segundo ano de tratamento. A gravidez chegou ao nascimento de criança viva em cerca de 25% das pacientes ao término do primeiro ano e 35% ao término do segundo ano.
Esses números são excelentes, principalmente considerando que a gravidez espontânea na faixa etária estudada gira em torno de 50% ao ano, e as taxas de abortamento e complicações gestacionais estiveram dentro do esperado quando comparadas às gestações espontâneas de um modo geral.
As pacientes que são submetidas a embolização geralmente são de faixa etária mais alta e já apresentam risco maior de infertilidade, abortamento e parto prematuro. A embolização melhora as chances de evolução da gestação, apesar de ainda apresentarem índices maiores que a população saudável.
Em artigos futuros discutiremos mais sobre peculiaridades do tratamento. Fique atento às nossas publicações!!
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Dr. Lucas Moretti Monsignore
CRM/SP 121.017 - RQE 38.296/38.297
Atualmente um dos diretores da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (Sobrice), entidade representativa da especialidade.
Fonte:
Pisco JM et al. Spontaneous Pregnancy with a Live Birth after Conventional and Partial Uterine Fibroid Embolization. Radiology. 2017