O que é hipertensão portal e TIPS?
Normalmente, a hipertensão portal acontece quando já existe alguma lesão ou doença no fígado, como cirrose ou esquistossomose. Por isso, é mais comum acontecer em quem já possui doenças hepáticas. Pode ser realizado tratamento intervencionista em alguns casos de hipertensão portal.
O que é a hipertensão portal?
A veia portal é aquela que leva o sangue da região dos órgãos abdominais como intestino, estômago e baço para o fígado. A hipertensão portal é o aumento da pressão na veia porta. Um dos fatores que influenciam e podem afetar a pressão na veia porta é a elasticidade do fígado. Muitas vezes quando o fígado fica doente ele perde a sua elasticidade normal. O órgão como um todo fica mais “enrijecido” e por isso o sangue tem dificuldade para circular normalmente no seu interior, levando à hipertensão.
Quais são as causas da hipertensão portal?
As causas mais comuns são aquelas que afetam a elasticidade do órgão ou que afetem mais diretamente os vasos sanguíneos da circulação do fígado. Dentre as principais, temos:
Cirrose – pode ter diversas causas, sendo a hepatite B, hepatite C e o consumo de álcool as principais.
Trombose nas veias do baço ou do fígado
Esquistossomose – doença parasitária muito comum em algumas regiões do Brasil
Quimioterapia – algumas dessas medicações podem causar alterações no fígado
Como é feito diagnóstico da hipertensão portal?
Assim como em muitas doenças, o diagnóstico é feito por uma avaliação conjunta da história clínica, exame físico e também podem ser avaliados exames de sangue ou de imagem.
Em quem não tem história anterior de doença no fígado, achados como inchaço da barriga, vômitos com sangue ou fezes escuras e muito mal cheirosas (melena), podem ser indicativos de hipertensão portal. Já nos pacientes já tem história conhecida de problemas hepáticos como infecção pelo vírus da hepatite B ou C, exames podem ser solicitados para detectar a hipertensão porta antes que ela cause sintomas.
Para confirmar o diagnóstico podem ser realizados exames Ultrassonografia, Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética do abdome para avaliar a circulação hepática. Também Endoscopia Digestiva Alta, para visibilizar possíveis varizes da região do esôfago e estômago.
Quais problemas a hipertensão portal pode causar?
Como na hipertensão portal o sangue tem dificuldade para passar pelo fígado, com o tempo o corpo tenta criar caminhos alternativos para realizar a circulação do abdome. Dessa forma, o sangue pode passar por veias como as próximas ao baço, rins, estômago e esôfago. Essas veias ficam sobrecarregadas e podem aumentar de tamanho, levando às chamas “varizes”. As varizes são frágeis e podem romper, levando o paciente a ter vômito com sangue ou mesmo sangue nas fezes.
Além disso, pela dificuldade de circulação, os pacientes tendem a acumular líquido na cavidade abdominal, a chamada ascite ou “barriga d’água”. Isso pode levar a desconforto pelo aumento do tamanho do abdome, como dificuldade para respirar e se locomover.
Em casos mais avançados, o paciente pode apresentar “intoxicação” pelas substâncias que são normalmente eliminadas pelo fígado. Uma manifestação que pode ocorrer por esse acúmulo anormal é a encefalopatia hepática, uma alteração do nível de consciência podendo levar até mesmo ao coma.
Como é o tratamento da hipertensão portal?
Além do tratamento específico do problema hepático que a causou, existem tratamentos focados diretamente na hipertensão portal e suas consequências. Podem ser usados remédios para controlar a pressão no sistema portal, como os betabloqueadores, associados ou não ao nitrato de isossorbida. Além disso, pode ser realizado tratamento por endoscopia, visando reduzir as varizes formadas na região do esôfago.
O que é um SHUNT?
Pacientes que não respondem de maneira satisfatória a esses tratamentos clínicos são candidatos a serem submetidos a “shunts”. Essa palavra vem do inglês e pode ser traduzida como “conexão” ou “ponte”.
Esses shunts são feitos para ligar a circulação que vem do intestino até o restante da circulação do corpo. Normalmente o caminho passa pelo fígado, mas como ele está doente e com hipertensão portal – o que gera dificuldade no caminho normal - é construído cirurgicamente um shunt – ponte como caminho alternativo.
Esse shunt pode ser feito de maneira cirúrgica tradicional - envolvendo uma laparotomia - que tem por objetivo ligar as veias do sistema portal na veia cava. O shumt também pode ser confeccionado por cateterismo, sem a necessidade de laparotomia, por uma técnica da radiologia intervencionista.
Qual o tratamento intervencionista para hipertensão portal?
O tratamento intervencionista para hipertensão portal é a confecção/criação de um shunt ligando a circulação portal até a circulação sistêmica (do resto do corpo). Esse novo caminho é realizado dentro do fígado entre as veias do sistema portal e das veias que levam o sangue para a o coração, as chamas veias supra-hepáticas. É daí que vem a sigla TIPS, que em inglês significa: Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt. A sigla resume o que é feito no procedimento: um Shunt intra-hepático portossistêmico transjugular.
No TIPS, o desvio é criado inserindo um stent entre a circulação venosa hepática e portal dentro do fígado.
Como é feito o procedimento do TIPS?
Como o próprio nome diz, o procedimento é feito pela veia jugular. A veia jugular é a maior veia que passa na região do pescoço. Ela serve como a porta de acesso que o médico intervencionista utiliza para realizar todo o procedimento. São usados cateteres especiais que são colocados por um pequeno corte na região dessa veia. O procedimento então é muito parecido com um cateterismo vascular.
O intervencionista vai navegar esses cateteres pelo interior da circulação até chegar no fígado, nas veias supra-hepáticas. Lá, é possível realizar a conexão direta dessas veias até o sistema portal. Esse novo caminho é mantido aberto com o uso de um stent, que funcionará agora como ponte entre o sistema portal e a circulação da veia cava. Veja na ilustração abaixo:
Acompanhe o site da NeoCure para mais informações sobre os tipos de tratamento intervencionistas.
Escrito por:
Dr. Lucas Moretti Monsignore
CRM/SP 121.017 - RQE 38.296/38.297
Atualmente um dos diretores da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (Sobrice), entidade representativa da especialidade